20. Passeando pela Grécia/Balcãs – de Ljubljana até Zone

7 de setembro de 2022

Há momentos numa viagem que são difíceis de gerir.

Por um lado, tenho de seguir para casa, por outro lado quero ficar…

Há tanta coisa que eu quero ver e não posso, que tudo o resto parece secundário, como a dor no meu pulso, o trabalho que me espera, ou as saudades de casa. É nestes momentos que sinto que não devo ser normal, quando todo o tempo do mundo me parece pouco para realizar tudo o que quero…

Um dia, numa viagem qualquer, eu comentei que as coisas já sabiam a saudade e alguém respondeu que era compreensível que eu estivesse com saudades de casa… mas o que já me sabia a saudade era a própria viagem, porque se aproximava do fim.

Hoje eu estava nesse espirito…

Olhando pela janela do corredor podia ver lá em baixo a minha moto e isso perturbava-me tanto…

No dia anterior, para guardar a moto no pátio, eu percorrera um carreiro estreito em lajes de pedra, que alargava apenas um pouco no extremo, onde eu a parara, tudo o resto era gravilha!

Mas não havia espaço para dar a volta sem pisar a gravilha e eu não tinha habilidade para manobrar avançando e recuando até dar a volta, pois a minha mão esquerda não seria capaz de segurar o guiador.

Manobrar a moto à mão, então, estava completamente fora de questão, pois se eu nem conseguia pegar direito no capacete e tinha de o enfiar na cabeça essencialmente com a mão direita!

Então andava pelo hostel apreciando todos os recantos, enquanto mantinha o meu pulso esquerdo no gelo e ginasticava a mão, a ver se ela acordava e recuperava um pouco de força e mobilidade.

Por isso custou-me sair dali e fui aproveitando o espaço até me sentir suficientemente corajosa para partir.

Aquele dia não seria cheio de descoberta, seria mais como percorrer um caminho, por isso havia tempo para apreciar de perto a tão famosa transformação da prisão em hostel, com uma decoração muito zen

O recanto de apoio à cozinha dos hospedes era tão original quando bonito. Na realidade, em vez da mesa e os bancos sobressaírem, estava escavados no chão.

Não sei se foi um aproveitamento de uma configuração já existente ou se foi um trabalho de design original, mas que resultou muito interessante, resultou!

Finalmente a minha mão fechou, eu enchi-me de coragem e arrisquei tirar a moto para a rua.

Eu, que sempre tive os pulsos tão frágeis e tão pouca força nas mãos, percebia agora o quanto a habilidade e experiência são, por vezes, mais importantes que a força!

Dei a volta por cima da gravilha, usando a força da mão direita, enquanto a esquerda apenas seguia pousada no guiador.

Tive de o fazer em piloto automático, sem pensar muito, para não deixar os receios tomarem conta de mim, e foi limpinho!

E segui para Kamnik, uma encantadora cidade situada no vale do Rio Kamniška Bistrica, aos pés dos Alpes eslovenos. Dizem que é uma das mais bonitas cidades medievais da Eslovénia.

Sempre sorrio com as placas de “zona” daquele país!

mania de escrever zona com um “c”!

Šutna é a rua principal que atravessa a zona mais pitoresca da cidade. Está repleta de casas fofinhas coloridas e lojas pitorescas.

A Igreja Paroquial da Imaculada Conceição de Maria é o principal templo da cidade, de arquitetura de influência barroca, com linhas elegantes e fachada imponente.

Sempre acho piada como as igrejas parecem rebeldes, ao não estarem posicionadas no alinhamento das casas! Na realidade o seu alinhamento não obedece ao das casas e sim ao do sol, tendo sempre o altar virado a nascente e o portal a poente, para que os fieis caminhem da escuridão para a luz.

Porém isso faz com que seja difícil, por vezes, fotografar uma igreja de manhã, pois corre-se o risco de a apanhar em contraluz!

Era um pouco estranho para mim encontrar ruas completamente vazias. Não gosto de ruas cheias de turistas, mas ruas sem ninguém é um pouco desolador também!

Provavelmente noutras cidades haveria muita gente ainda, mas ali não é um sitio muito turístico, por isso não se via vivalma!

A Glavni trg é a praça principal da cidade. Encantadora sem ser demasiado decorada, como praças de noutras cidades, que são claramente desenhadas para turista ver. A simplicidade elegante da decoração apenas realça a verdadeira essência do local, tornando-o ainda mais especial para quem o visita.

Há ali um charme e autenticidade, combinando perfeitamente a atmosfera acolhedora da praça com a serenidade da cidade.

E ao fundo fica o lindissimo café Kavarna Kalipso!

Aquela fachada chamou-me a atenção desde a primeira vez que pesquisei sobre Kamnik. Ok, não fui lá por causa do café, mas estando lá, tinha de o encontrar e desenhar!

A casa chama-se Maistrova e tinha acabado de ser restaurada pouco antes de eu chegar. Eu pensei até que ainda a iria encontrar em obras, mas ela tinha-se vestido a tempo para mim!

Na realidade meses antes, tinha sido concluído o restauro da fachada da casa, como parte do projeto de reestruturação da praça principal da cidade.

Antes do restauro, a fachada era bege acinzentado, com elementos decorativos laranjados. Após a renovação, as novas cores da fachada geraram confusão por parecerem completamente novas e inadequadas. Mas, na realidade, as cores foram escolhidas conforme o original, antes do desgaste do tempo e a ação do sol.

Para mim ficou perfeita!

Ao lado fica o Caferacer Bar, onde eu tomei um café, um bom sitio para apreciar a fachada do Kavarna Kalipso!

Não havia motos nem motards à vista, apenas eu!

No topo da colina do Calvário, que pertence ao Mali grad, fica a Capela de Santo Eligius, ou Kapela Svetega Eligija.

Mali grad quer dizer, literalmente, castelo pequeno.

O portão para a capela estava aberto, mas tudo o resto estava fechado. Acho que é a desvantagem de se passear fora de época, ele só abriria muito mais tarde.

A capelinha empoleirada lá na ponta da colina, estava fechada também.

Felizmente as paisagens estão sempre abertas e dali podia verboa parte da cidade.

Fiquei surpreendida com a fidelidade da foto e de todas as explicações. Às vezes estes painéis são tão diferentes do que a gente vê na nossa frente, que se demora um pedaço até se descobrir onde está cada coisa!

Dali podia ver-se como as montanhas estavam perto.

A moto estava no outro extremo da rua Šutna. Estava na hora de pegar nela e seguir caminho.

Antes de sair do país tinha de encher o deposito, que a gasolina em Itália é sempre um roubo! Na realidade, comprovaria mais tarde que ela estava “só” mais cara 40 cêntimos por litro em Itália!

A Eslovénia continua a fascinar-me, podia sentir isso à medida que me aproximava da saída. Ainda há muitos mistérios, lendas e belezas naquele país a chamarem a minha atenção. Um dia terei de voltar!

Um dia terei de voltar!

Onde há monte há motociclistas e os avisos para que tenham cuidado começam a aparecer.

Ali diz: Secção de estrada perigosa.

E, ao dar uma olhada ao meu Ambrósio, podia perceber que tinha montanha gira para fazer. Os Alpes Julianos estavam tão perto e, infelizmente, eu não os iria atravessar, mas pude pelo menos ter um vislumbre!

Ora vamos lá Itália!

É sempre tão pouco interessante atravessar aquela zona de Itália, até chegar aos Alpes, mas eu não estava com disposição para andar a dar voltas em busca da montanha. Tinham previsto chuva para a zona onde eu pernoitaria e eu queria chegar lá antes dela, pois aquilo é bonito e montanhoso e não teria qualquer graça subir em meio à tempestade!

Enquanto as estradas eram vazias e distantes, a coisa teve piada, mas depois começam a aparecer as cidades e as estradas pilhadas de carros. Eu tinha consciência de que estava a passar perto de cidades muito movimentadas, como Pádua e Verona…

Estava tão perto de Veneza! Ui, aos anos que eu não passo lá!

É aquela sensação de estar perto de tanta coisa que quero ver ou rever e não posso. Uma pena!

O pior que me podia acontecer ainda, era ter de conduzir no meio do transito, e eu fazia tudo por evitar usar a embraiagem. Na realidade, naquela viagem, eu vinha usando e abusando da 4ª mudança, aquela que me permitia fazer mais coisas sem ter de mudar. Subi, desci, curvei e acelerei por dias a fio usando basicamente a 4ª.

Agora ia no meio de trânsito lento por quilómetros, rezando para que me deixassem usar pelo menos a 5ª, sem ter de baixar!

E finalmente cheguei à estrada de Zone.

Eu já lá tinha estado uns anos antes, com uma CrossTourer, quando regressava da Islândia, por isso sabia que a estrada era fixe, com curvas e subidas excelentes para a minha 4ª mudança.

É, parece que qualquer terra pode ficar no caminho da Islândia. Neste caso no regresso da Islândia, quando eu decidi que seria uma boa ideia passar pelos Alpes Italianos, pelas Dolomitas e pelo lago de Garda!

Zone fica na montanha, nos Pré-Alpes de Bréscia, conhecidos em italiano como Prealpi Bresciane, com vista para o Lago d’Iseo.

E fiquei no mesmo albergue da ultima vez. Eu lembrava-me bem, mas não contava que se lembrassem de mim!

“Ainda da série, quanto tempo as pessoas se recordarão de nós após a nossa passagem, aqui fui recebida com um alegre ” questa è la tua seconda volta qui!” e um enorme sorriso a acompanhar a exclamação! Eu já não me lembrava bem quando cá estive, mas a senhora lembrou-me que a minha moto era preta. Puxa, sabe bem que se recordem de mim depois de tanto tempo e tanta gente que aqui passou…” in Facebook

Depois lembrei-me que a moto não era totalmente preta, tinha o deposito vermelho. A senhora lembrava-se que era uma moto alta e que eu apanhara muita chuva. Eu sei, e hoje quase a apanhava outra vez!

Lembrava-me da paisagem da janela do meu quarto, que era o mesmo.

Será que o hostel só tinha um quarto?

Eu tinha percebido da ultima vez que muita gente se alojava ali para praticar desportos de montanha, subir os trilhos e relaxar. Já da outra vez eu era a que estava de passagem, que vinha de mais longe e que ia para mais longe também!

Desta vez a história repetia-se!

Aquelas paisagens deslumbravam-me! Não me admirava que houvesse quem fosse para ali só por causa delas!

É sempre curioso como uma terra estranha se torna, depois de uma viagem, terra conhecida! E era isso que eu sentia, que passeava por terra conhecida, tentando descobrir algum recanto novo.

A igrejinha é muito fofa, da ultima vez estava fechada, mas desta vez consegui vê-la por dentro. Pareceu-me que era consagrada a S. Pedro, a considerar pelo santo que está no altar, vestido de escuro e com barbas e cabelo branco!

Irónico se o santo padroeiro for o S. Pedro, pois parece que por ali chove que se farta! O santo não tem consideração pelos seus fieis?

Eu e o meu braço, todo folclórico, com as fitas de drenagem neuromuscular azuis para dar um pouco de cor ao conjunto.

Regressei à base, antes que o temporal se instalasse. No hostel tinham avisado que vinha aí muito mau tempo, a confirmar as previsões que eu vira no meu telemóvel.

A comida estava deliciosa!

Aquela carne estava um luxo, acho que apenas como carne com aquela qualidade e grelhada exatamente no ponto, lá ou cá! Como se em mais país nenhum conseguissem entender como ela se prepara!

Então um fulano entrou no restaurante e pôs-se a falar com outro que estava numa mesa perto da minha. Percebi, pela conversa, que o homem que tinha entrado era português, por isso falei…

Eu, que fico sempre no meu canto, que nunca revelo quem sou nem de onde sou a outros portugueses, disse que era portuguesa. Ele veio sentar-se na minha mesa, o que já me deixou meio desconfortável, mas lá nos pusemos à conversa e tudo correu bem, até eu falar do meu moçoilo…

O homem ficou em choque, então eu tinha marido e andava por ali sozinha?

– Não está certo, não está correto, não pode ser! – dizia abanando a cabeça negativamente.

– Mas então porquê? Eu não ando a fazer nada de errado!

– Mas um casal tem um compromisso, têm de andar os dois! – defendia ele

– Como isso? O meu homem não gosta de viajar e viajar é um dos grandes objetivos da minha vida, não dá para andarmos juntos!

– Não importa, têm de arranjar um entendimento porque vocês têm um compromisso!

Eu olhava-o incrédula!

– Temos o compromisso de nos fazermos infelizes um ao outro? E se eu fosse um homem, para si já estaria tudo bem, certo?

– Bem, não, sim, talvez…

Peguei nas minhas coisas e fui embora, prometendo a mim mesma manter a boca calada, como sempre faço quando percebo portugueses por perto…

Então a tempestade começou, para complementar o meu aborrecimento pela conversa que eu não pedi, mas tive de aturar.

A cada trovão que explodia o céu se iluminava mostrando o perfil dos montes em redor, num espetáculo que me fascinou e me fez esquecer o estupido lá de baixo.

As noites de tempestade sempre me fascinaram, mesmo quando as apanho na estrada. Mas ali, protegida, com uma janela privilegiada para ver o espetáculo, foi o máximo!

Além dos flashes que iluminavam tudo, a chuva tornou-se violenta, curiosamente sem qualquer vestígio de vento!

E lá fui dormir quando o espetáculo terminou, esperando que o São Pedro tivesse gasto a água toda e não houvesse mais para amanhã!

19. Passeando pela Grécia/Balcãs – a Eslovénia e a bela Ljubljana

6 de setembro de 2022

Depois da longa distância de mais de 500km de ontem, hoje eu tinha um pequeno trajeto para percorrer.

Frequentemente eu faço isso ao planear as minhas viagens, quando tenho um percurso longo num dia, trato de desenhar um pequeno para o dia seguinte.

Na realidade eu quis fazer a costa croata de uma vez só, como uma história contada seguida, um passeio de dia inteiro, e deixara a passagem pela Eslovénia para um passo a passo e assim poder apreciar cada curva do seu caminho, cada subida e descida, até à capital.

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O meu quarto era tão bonito, com a cama junto à enorme janela de parede inteira, a dar-me a sensação de que estava a flutuar sobre a paisagem! Até apetecia viver ali mais tempo!

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A vista sobre a baía era fenomenal!

Mas estava na hora de partir. A sensação de ter de seguir entristecia-me um pouco, estava numa viagem encurtada e, de alguma forma, sentia isso no meu esqueleto, habituado a passar muito mais tempo na estrada.

Naquela altura eu já estava tão habitada à dor que, se pudesse, teria alongado a viagem mesmo com o ritual de dor-estrada-gelo-e-mais-estrada, sem problema!

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Não foi longo o caminho até passar mais uma fronteira e lá estava a Eslovénia.

A Eslovénia é um país deslumbrante, com uma paisagem natural impressionante de majestosas montanhas. As minhas memórias, das vezes que me passeei pelo país, sempre são recheadas de percursos encantadores, mesmo quando não há mais nada para ver para além de estradas rodeadas de natureza.

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Estava a passar em Bač quando vi a indicação do castelo de Kalec. Não pude resistir e tentei ir até ele…

Mas tive de o ver de longe, porque o caminho era ruim, em terra batida… Isso não me teria stressado noutras circunstancias, mas, naquele momento, não me atrevi a meter a moto por ele. Era triste para mim sentir-me limitada, mas não tinha alternativa, não podia correr riscos.

O castelinho do séc. XIV, tem apenas uma torre e alguns trechos de muralha, mas parece que está em ruinas. Então contentei-me imaginando que, se calhar, ele até era mais bonito visto ali da rua, com a torre a aparecer por cima das árvores… 😦

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Normalmente eu percorreria caminhos e ruelas, sem me importar com o estado em que estivessem, mas tinha de me reduzir à minha incapacidade e permanecer civilizada, andando apenas por estradas em bom estado. Nada a fazer!

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Logo à frente, em Pivka , fica o Parque de História Militar.

O Parque é o maior complexo museológico da Eslovénia, tornando-se um dos museus mais visitados. O projeto transformou Pivka em atração turística, impulsionando o desenvolvimento local. A exposição “Caminho para a Independência” relata a defesa da Eslovénia em 1991, aquando da Guerra dos Dez Dias, ou Guerra da Independência da Eslovênia, o conflito armado decorrente da declaração de independência da Eslovênia da Iugoslávia.

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Eu queria visitar o museu, mas o paleio com um par de motociclistas acabou por esgotar-me e esgotar o meu tempo, e a visita seria muito demorada para eu a iniciar tão tarde!

É muito gratificante ficar à conversa com motociclistas, mas, numa viagem, normalmente é pouco produtivo, porque se fala essencialmente de motos e se gasta muito tempo com isso. Mesmo eu tendo tentado saber coisas diferentes, sobre locais e historias de viagem, nem sempre adiantou. Falou-se de motos e mais motos, encontros e outros motociclistas que fazem trilhos e convívios… tudo coisas que não conheço e de que só gosto de falar quando estou quieta, porque me esgotam quando estou em viagem, pois não trazem nada de novo!

Momentos giros que me tiraram o tempo que podia ter usado visitando o museu…

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Entrei na loja, comprei um boné para o meu moçoilo, dei uma olhada em redor e segui o meu caminho… Pode ser que um dia eu lá passe de novo e consiga visitar a coisa com calma!

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Parei mais à frente na sombra da igreja Župnijska cerkev sv. Petra, a igreja paroquial lá do sitio. Igrejas sempre me prendem a atenção, sobretudo em países onde sei que os interiores são inesperadamente diferentes dos nossos!

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E mais uma vez não me enganei! Embora a igreja fosse simples no exterior, era muito bonita no interior, todo pintado com cores e imagens extraordinárias. Pelo que percebi tudo aquilo foi pintado por um padre pintor! Fantástico!

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Estava nos domínios do Castelo de Predjama – o Predjamski grad.

O imponente Castelo, que tem mais de 800 anos, está encrustado no topo de um penhasco e é uma maravilha de origem medieval que parece saída de um conto de fadas.

Ali por baixo dizem que há uma rede de túneis secretos pelos quais o cavaleiro Erasmo de Lueg, saia e entrava, para as suas expedições de saque. Sob o castelo, encontra-se a Caverna de Predjama, com uma colónia de morcegos, acrescentando um toque misterioso e fascinante a toda a área.

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E há mais lendas ali, eu adoro descobrir lendas, e castelos sempre têm as suas.

Então, reza outra lenda que Erasmo de Lueg teria matado um nobre na Corte de Viena durante uma discussão onde o outro teria ofendido a honra de um seu amigo falecido. Como o nobre era parente do Sacro Imperador Romano Frederico III, Erasmo fugiu para seu Castelo de Predjama, para evitar a punição. Então o imperador enviou o governador de Trieste para cercar o Castelo, planejando privar Erasmo de comida. No entanto, Erasmo conseguiu sobreviver com alimentos entregues através de um túnel secreto no sistema de cavernas por baixo do castelo, ao que parece por uma mocinha que gostava dele.

Após o longo cerco de mais de um ano, Erasmo foi traído por um de seus servos e morto, quando estava a fazer as suas necessidades, com um tiro de canhão que destruiu a retrete toda e parte da muralha do castelo.

Que forma mais embaraçosa de um cavaleiro morrer!

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O castelo é conhecido como o maior castelo-caverna do mundo, sendo reconhecido como um dos recordes mundiais do Guinness. Devido à sua singularidade e grandeza, destaca-se como um dos castelos mais fascinantes do mundo, tendo já sido usado como cenário de varios filmes.

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O edifício atual é do século XVI, quando outra família nobre decidiu reconstruir as ruínas da estrutura medieval. Depois disso ele foi sempre habitado, até à proclamação da República Federal Socialista da Jugoslávia, quando foi confiscado pelas autoridades comunistas jugoslavas e transformado em museu.

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Eu já o tinha visitado numa outra viagem, anos atrás, por isso apreciei-o por fora, fiz uns pequenos desenhos e fui-me acomodar uma esplanada muito interessante, para lanchar qualquer coisa e apreciar o momento.

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Um lanchinho delicioso, numa esplanada cheia de esculturas de madeira, acompanhado por música e conversas com os senhores que estavam a servir no local.

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Até a placa dos bilhetes tinha direito ao seu próprio boneco em madeira! E sim, vstopnice que dizer bilhetes. As coisas que eu sei, heim?

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A seguir passei na famosa Idrija

A cidade é famosa por várias coisas: primeiro ali existem as maiores minas de mercúrio do mundo, depois o seu famoso Castelo Gewerkenegg é património mundial da humanidade e, finalmente, um novo mineral foi encontrado pela primeira vez em Idrija e recebeu o nome de idrialita em homenagem à cidade.

Segundo a lenda que, há mais de 500 anos, um fabricante de baldes descobriu mercúrio líquido perto de uma fonte e hoje sabe-se que Idrija é um local raro onde o mercúrio pode ser encontrado tanto na sua forma líquida como mineral.

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E lá estava o famoso Castelo Gewerkenegg. 

Foi construído pelos proprietários das minas, no séc. XV, para abrigar a administração, apoiar as minas e armazenar e proteger o precioso mercúrio contra as invasões turcas e venezianas. Por isso nunca foi um castelo convencional, dado que nunca foi residência de uma família aristocrática!

Não sei porquê, mas estava fechado, por isso tive de seguir caminho sem o visitar. Uma pena, pode ser que um dia eu volte a passar e consiga visita-lo por dentro!

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O verde é tão vibrante por aquelas terras!

A vantagem de se viajar de moto é que se sentem todas as variações de temperatura e todos os cheiros e aromas da natureza e isso é uma sensação que envolve completamente os sentido de forma inebriante, por vezes!

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É sempre como se a própria terra me convidasse com segredos antigos para explorar cada recanto de cada cenário em redor!

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A beleza cênica das estradas montanhosas da Eslovênia pode ser verdadeiramente incomparável.

Eu terei de voltar ao país para fazer algumas estradas fantásticas que estão na minha agenda. Mas, infelizmente, não agora, que o tempo não deixa e a mão não ajuda…

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Cheguei a Ljubljana cedo como eu queria

O meu hostel, moderno e bonito, foi ele próprio uma das razões da minha reserva, porque o queria ver por dentro.

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Na realidade, o edifício onde ele está, era uma antiga prisão militar que foi transformada num hostel moderno e artístico. Cada quarto do albergue foi projetado exclusivamente por diferentes artistas, tornando cada estadia uma aventura criativa e inspiradora.

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O hotel é reconhecido e premiado internacionalmente pela sua singularidade, perfeita adaptação de um espaço militar e beleza de decoração.

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Com um conceito e história únicos, passar a noite numa das 20 antigas celas de prisão, com grades nas janelas e portas, pode ser uma experiência muito interessante!

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E tem um pátio, onde mais tarde eu guardaria a moto, com pormenores interessantes!

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Outra razão para eu querer pernoitar ali é que o hostel está rodeado pela vibrante área de Metelkova, conhecida por seus bares, pubs, galerias, museus e teatros e arte urbana.

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O nome completo é Avtonomni kulturni center Metelkova mesto – “Centro Cultural Autonomo da Cidade de Metelkova”, e é um centro social e cultural autónomo localizado no coração de Liubliana.

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O nome completo do local é Avtonomni kulturni center Metelkova mesto – “Centro Cultural Autonomo da Cidade de Metelkova”, e é um centro social e cultural autónomo localizado no coração de Liubliana.

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Inicialmente, o aquilo tudo era o quartel-general militar do Exército do Império Austro-Húngaro e, posteriormente, do Exército Popular Jugoslavo.

Então foi ocupado por artistas e ativistas, desde setembro de 1993, depois do país se ter separador da Jugoslávia e após o exército se retirar, e recebeu o nome de Metelkova, em homenagem a um padre católico, filólogo e reformador linguístico esloveno do século XIX, Fran Metelko.

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Desde então, Metelkova transformou-se num centro cultural autónomo, conhecido por sua arte de rua, eventos culturais, clubes noturnos e exposições.

O quarteirão é composto por sete edifícios, antigos quartéis militares, espalhados por uma área total de 12.500 m².

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Metelkova atrai uma mistura eclética de visitantes com uma atmosfera alternativa e criativa, desde artistas e músicos a turistas curiosos em busca de algo diferente. Os edifícios coloridos e decorados com grafitis são palco para festas, concertos, performances teatrais e exposições de arte contemporânea. Além disso, o bairro é um importante espaço para a expressão artística e para o debate de questões sociais e políticas na Eslovênia.

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Metelkova é estudada por sua ocupação e convivência com as leis. É considerado um espaço heterotópico, que coexiste com a cidade legalmente. Dividido em áreas de arte, vida social, envolvimento civil, e comercial, convivendo bem com espaços institucionais como o Museu de Arte Contemporânea e o Hostel Celica.

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Em 2005, Metelkova foi declarada património cultural nacional, recebendo apoio financeiro do Fundo Cultural Europeu. É uma comunidade autogerida com urbanismo informal, inicialmente ilegal, mas agora legalizado, que contribui significativamente para a cena cultural de Liubliana, concentrado grande parte dos dos concertos musicais e eventos artisticos da cidade.

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Andava eu mas minhas explorações, quando um rapazão meteu conversa comigo. Na realidade eu andara por ali praticamente sozinha, por isso a sua abordagem não me inspirou muita confortavel. Mas ele era um tipo muito bem-disposto que se pôs a dizer uma infinidade de coisas até eu me rir. Aparentemente era esse o seu objetivo! Mas o ponto alto foi quando me dirigi à minha moto e ele ficou escandalosamente em estado de choque, por eu ir conduzir uma moto tão grande! Como ele continuava a gesticular eu acabei por lhe tirar uma foto para a posteridade, quando já me ia a afastar.

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Fui passear pela rua principal da zona antiga da cidade, que é sempre uma experiência encantadora. Àquela hora os monumentos estariam fechados, mas isso não seria um problema, visto que eu conhecia um pouco de tudo o que há para visitar por lá, de outras visitas anteriores à cidade.

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Os edifícios históricos sucedem-se de forma harmoniosa, com lojinhas, cafés e esplanadas a adornar a rua. E apetece parar, sentar e ficar a apreciar quem passa.

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Então chega-se à Praça da Cidade e lá está a Fonte Robba, também conhecida como Fonte dos Três Rios Carniolanos, um ícone de Liubliana. (Carniola é a região em redor da cidade).

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Felizmente não havia demasiada gente, o que permitia apreciar a beleza do local com uma luminosidade impressionante.

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Acho que não havia tanta gente nas ruas por ser setembro, como em agosto quando costumo viajar, por isso foi um passeio descontraído, sem demasiados turistas nem demasiado calor.

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O rio Ljubljanica atravessa a cidade serpenteando por ela de ponta a ponta e é ele quem dá o nome à cidade.

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Pude passear pelas margens calmamente. Lembro-me de passear por ali ao som de musica ao vivo, com magotes de pessoas a fotografar tudo e todos, sobretudo a si mesmas, e desejar voltar fora da época alta.

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Junto à Praça Peresen fica a Ponte Tripla e a Igreja Franciscana da Anunciação, do século XVII, a igreja paroquial é a mais icónica da cidade, que chama a atenção pela sua cor rosada, uma cor simbólica da ordem franciscana.

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Eu já lá tinha entrado há muitos anos, mas não deixei de dar uma olhada.

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O barroco não é o estilo que mais me fascina, mas não deixo de apreciar a sua grandiosidade decorativa.

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Havia um clima sereno e, aparentemente, não era apenas eu que tinha vontade de sentar e apreciar o momento.

O ambiente era super agradável, com o pôr do sol a aproximar-se. Era como se a tranquilidade do lugar convidasse todos a desacelerar e simplesmente apreciar.

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Acho que sempre que passo em Ljubljana janto junto ao rio e desta vez não foi exceção!

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Comi uma deliciosa piza, empoleirada numa tábua com pernas, acompanhada por uma enorme cerveja. Nunca me desiludo a comer naquela cidade!

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E fui embora com a barriga cheia, e o espirito leve por relembrar tão bela cidade, que já não visitava há alguns anos!

18. Passeando pela Grécia/Balcãs – as aparições de Međugorje e a costa da Croacia

5 de setembro de 2022

Eu estava no coração do lugar sagrado!

Podia senti-lo mesmo sem sair do meu quarto. Lá fora ouviam-se as pessoas que passavam orando alto. Acho que as ouvi um pouco por toda noite! Aparentemente o mau tempo não tinha perturbado em nada os grupos de crentes no seu vai-e-vem.

Eu sabia que estava no caminho para a colina das aparições, muito perto mesmo, e a agitação no meu alojamento começara cedo também, pois aquela gente toda iria seguir para lá.

Na sala de refeições havia grupos de pessoas tomando o pequeno almoço, preparados para subir à colina.

Eu não iria até à colina.

Apenas iria explorar a agitação religiosa da vila e depois seguiria o meu caminho para a costa.

A minha motita lá estava, agora no seu canto iluminado pelo sol.

Eu temera ter pela frente outro dia de chuva, mas ela tinha-se esgotado durante a noite e hoje estava um belíssimo dia de sol!

Junto à igreja o ambiente religioso intensifica-se.

Há varias imagens da Nossa Senhora, mas a mais emblemática, junto à igreja, é muito bonita e venerada.

A Nossa Senhora de Međugorje, ocupa um lugar significativo no coração de muitos crentes como a Rainha da Paz. As aparições da Virgem testemunhadas por seis crianças croatas em 1981 cativaram a atenção do mundo e suscitaram discussões sobre fé, paz e espiritualidade.

As aparições ocorreram durante o regime comunista ateu da ex-Jugoslávia, que reprimia rigorosamente manifestações religiosas em público.

Muitas perseguições ocorreram e, na aldeia, várias pessoas sofreram com isso, muitas sendo mesmo presas. Dizem que, durante os primeiros anos, a polícia impediu as pessoas de subirem a colina.

Policias armados e com cães ficavam no sopé do monte Podbro, conhecido como “a colina das aparições”, para desencorajar as pessoas de subirem para rezar, pois acreditavam que o que estava a acontecer em Međugorje era uma tentativa de destruir o Estado comunista.

A igreja paroquial é dedicada a São Tiago Maior, padroeiro dos peregrinos, e é um ponto de encontro para os devotos locais e para todos os que viajam até lá em busca de uma conexão mais profunda com Nossa Senhora.

A construção atual, erguida em 1969, substituiu a antiga igreja edificada um século antes, que se degradou já que o terreno era propenso a deslizamentos de terra.

A imponência e o tamanho da igreja contrastavam com o pequeno número de paroquianos da época em que foi construída, o que levanta a possibilidade de os construtores terem tido uma visão profética do crescimento espiritual e da importância que o local alcançaria nos anos seguintes, dizem os crentes,.

Quando as aparições começaram, a igreja ficava isolada no meio dos campos. Com o tempo, esses campos foram-se tornando em áreas de construção e a pequena vila cresceu em redor da igreja.

A Igreja é conhecida como o “confessionário do mundo”, com vinte e cinco confessionários, onde padres de todas as nações ouvem confissões em todos os idiomas do mundo.

E lá estava o altar de Nossa Senhora com fieis em fila para rezar.

Após as aparições marianas, o número de peregrinos aumentou, levando à reorganização dos arredores, incluindo a construção de um altar exterior atrás da igreja e uma área de oração com cerca de 5.000 lugares sentados.

Depois segue-se um jardim, ladeado por diversas capelinhas de construção moderna, a caminho do cemitério.

São varias dedicadas a diferentes momentos da vida de Cristo e Maria.

Então, ao fundo, o caminho estreitece e podem-se ver diversas construções com exposições de imagens emblemáticas do local e sua história.

Ali eu pude ver como tudo era tão simples, a lembrar as imagens muito mais antigas do inicio da história das aparições de Fátima!

Apesar de não ter sido reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, a devoção a Nossa Senhora de Medjugorje cresceu significativamente ao longo dos anos, com relatos de conversões, curas e experiências espirituais profundas entre os peregrinos.

O cemitério fica logo a seguir.

Um homem veio ter comigo e, num inglês rudimentar, disse-me que me ia levar à campa.

Não entendi logo onde ele me queria levar, mas segui-o.

Percebi depois que ele me levara à campa do padre Slavko. 

O padre Slavko Barbarić, que também era frade franciscano, foi o diretor espiritual dos videntes até falecer em 2000. Ele substituiu o primeiro padre que acompanhou os videntes, e que foi afastado por estar envolvido num escândalo sexual! Então Slavko Barbarić continuou treinando os videntes e sendo diretor espiritual do lugar.

Embora a sua história esteja cheia de idas e vindas, duvidas e incertezas, continua a ser venerado.

Há vários recantos por ali, como o pequeno jardim onde se levanta a estátua de Cristo Ressuscitado.

Muito interessante a forma como é sugerida a ressurreição, com uma superfície de bronze no chão, onde a silhueta de Cristo está escavada. Definitivamente a gente “vê que ele se levantou” dali.

As pessoas sobem os degrauzinhos ao lado da estatua e tocam-na nas pernas, enquanto rezam. Por isso ela tem as pernas douradas até aos joelhos, polidas pelas muitas mãos que as tocam!

E voltamos à zona exterior de celebração com todos aqueles bancos em semicírculo.

Dá que pensar a historia do local e em tudo o que aprendi antes de lá chegar e depois de falar com varias pessoas por lá…

Desde que a história de Nossa Senhora de Medjugorje teve início, há 40 anos, as crianças (que hoje são gente adulta e pais de filhos) relataram aparições diárias. E acredita-se que Nossa Senhora transmite mensagens para os crentes locais e para o mundo por meio dos videntes, até os dias de hoje.

Além de partilharem as mensagens de Nossa Senhora, cada vidente recebe Dela uma intenção de oração distinta como orações pelos doentes, pelos jovens, pelos descrentes, pelas famílias, pelos sacerdotes e pelas almas no purgatório.

Pelo que sei, os videntes continuam vivos e bem, e frequentemente juntam-se aos sacerdotes e peregrinos em oração.

No entanto, ao contrário de outros casos semelhantes aprovados pelo Vaticano, a Senhora de Medjugorje ainda é hoje objeto de controvérsia, tanto tempo depois de as primeiras aparições terem sido registadas. No centro desta discussão está o primeiro padre envolvido, que foi acusado de abusos sexuais e excomungado pela Igreja em 2020.

Outra das dificuldades para a igreja aceitar plenamente as aparições como confiáveis, está no facto de elas se manterem permanentemente e quase diariamente, quando normalmente aparições são momentos raros e pontuais. O Papa Francisco disse mesmo que a mãe de Jesus não era “chefe dos correios” para enviar mensagens diária a horas certas.

Assim, até hoje as aparições nunca foram confirmadas pelo Papa nem pela Igreja Católica, mas as peregrinações continuam a ser permitidas e a cada ano o volume de peregrinos vindos de todos os cantos do mundo aumenta. Atualmente, mais de um milhão de peregrinos de 120 países visitam Medjugorje anualmente.

Por aquela altura eu já estava cansada da história e só queria ir embora. E tal como pensara de manhã, não tinha qualquer vontade de subir à colina das aparições. O clima seria de muita fé e oração e eu não queria meter-me no meio disso para não perturbar o ambiente.

Por isso pus-me a andar para a costa

“Passar uma fronteira onde vão controlar passaporte é sempre uma experiência que me deixa na expectativa! Desta vez fizeram-me a pergunta da praxe: “your friends?” Havia mais motos e o homem queria que fossem meus amigos! “No friends, I’m alone” depois vieram outras perguntas típicas, tipo de onde eu vinha… meu deus, nunca sei o que responder, de onde venho hoje? De onde sou? Ah, concluiu ele, vens do outro lado de Espanha! Yes, that’s it …” in Facebook

Eu estava a viajar com passaporte, porque o tinha feito para ir mais longe… infelizmente as circunstancias não mo permitiram e eu levei-o comigo na mesma! Para além disso eu gosto da configuração do passaporte, que me permite pôr dentro coisas e documentos importantes que tenho de mostrar por vezes, e assim estão todos juntos, como carta verde e a carta de condução.

E não, o que eu mais gosto na costa da Croácia não é Dubrovnik, é a própria costa!

Já a percorri por diversas vezes e, a cada vez que o faço, se toma mais difícil para mim passar na região de Dubrovnik.

Todo o encanto de passar na estrada, parar e olhar lá para baixo, e ver a cidade que se estende sobre o mar, como uma pequena península, foi desaparecendo ao longo dos anos, à medida que a sua fama foi crescendo como destino turístico amplamente publicitado.

Há muito que eu comecei a passar sem nem parar, furando por entre motos e carros, vendedores ambulantes e roulottes estacionadas mais na estrada que na berma, seguindo o meu caminho como se não houvesse nada interessante ali para mim.

Por isso hoje não terei qualquer pena de chegar à costa mais à frente, perto mas longe o suficiente para seguir pela costa croata, o mais sozinha possível!

A Croácia, possui uma costa deslumbrante sobre o mar Adriático, que me encanta sempre, não importa quantas vezes lá passe!

A região costeira, conhecida como Dalmácia, é famosa pelas suas praias de cascalho e águas cristalinas de um azul turquesa inigualável.

Claro que para além da beleza natural das praias, a Dalmácia é também um local histórico e culturalmente rico, com cidades e aldeias antigas encantadoras e uma culinária deliciosa que combina influências mediterrâneas e europeias.

Mas desta vez eu iria apenas percorrer a costa e deliciar-me com o prazer da condução num verdadeiro paraíso!

Além do território continental, a Croácia tem mais de 1.000 ilhas ao longo de sua deslumbrante Costa Dálmata.

Eu estava tão contente por não haver ninguém a fazer aquele caminho comigo! Não me apetecia sequer ver casas nem aldeias, apenas seguir em piloto automático por ali fora!

Aquilo é ilhas, ilhotas, rochas e rochedos por todos os lados!

Será que, na contagem das mil ilhas estão incluídos os rochedos e as rochinhas?

O fascínio das rotas costeiras, como aquela, está na combinação das paisagens deslumbrantes e a liberdade da estrada aberta, sobretudo quando não há mais ninguém na estrada para além da gente, como naquele dia!

Apenas percorrer aquela costa é uma experiência inesquecível, repleta de paisagens deslumbrantes e vilarejos pitorescos. E nunca significa apenas fazer um caminho para chegar a um destino.

Nada de corridas cheias de adrenalina, apenas deixar a moto rolar e apreciar o caminho!

Novi Vinodolski, que belo sitio para comer!

Eu sempre escolho bem os sitios onde faço os meus picnics, a memos que esteja morta de fome e tenha de comer com o maximo de urgência, porque aí até sou capaz de comer montada na moto!

As coisas giras que a gente vê quando viaja calmamente apenas deixando a moto correr!

A principio pareceu-me um moscardo que voava na minha direção!

Cruzes, se os moscardos fossem daquele tamanho estavamos todos tramados, a considerar pela quantidade deles que vêm contra a gente quando estamos em movimento!

Pausa para refletir! 😀

E cheguei a Rijeka, uma cidade encantadora com um charme único que facilmente conquista qualquer um.

Já lá tinha estado antes, há muitos anos, mas apenas de passagem. Hoje queria aproveitar para explorar em redor, procurar um sitio onde me sentar e passar um pouco do meu serão.

A rua Korzo é o verdadeiro coração da cidade, onde se encontram os principais cafés, bares, restaurantes e lojas, criando um ambiente animado e acolhedor.

É a rua principal de Rijeka, paralela ao mar e à avenida Riva, que eu percorri vezes sem conta, até encontrar um sitio para pousar a moto.

A mistura única de história e modernidade torna a cidade encantadora.

O Gradski Toranj – Torre da Cidade, está ali, no centro da Korzo. A torre destaca-se mesmo estando cercada por construções mais modernas. A sua construção remonta à Idade Média, possivelmente sobre os alicerces das antigas portas da cidade. A fachada da torre hoje é barroca, como um portal espetacular.

Encontrei o sitio certo para sentar, comer e relaxar, longe das multidões de turistas que testam minha paciência! com a sua algazarra! Foi um serão muito fixe!

A dada altura o barman viu-me a tirar fotos do local e se ofereceu para me fotografar. Sempre me sinto tão descuidada em viagens, com o rosto marcado pelo sol, cabelo desgrenhado e roupas pouco convencionais, mas aceitei!

Agradeci ao rapaz pela gentileza e trocamos algumas palavras. Perguntou-me de onde eu vinha.

A tal pergunta que eu nunca sei como responder: de onde venho hoje, de onde eu venho nesta viagem ou de onde eu venho do ponto de partida?

Ele ficou surpreendido pela minha duvida, são coisas assim tão diferentes? quis saber.

Muito diferentes, senão veja: Hoje venho da Bósnia, mais propriamente de Medjugorje; nesta viagem, venho da Grécia, que foi o país que mais explorei, e o meu ponto de partida é Portugal, norte de Portugal mais propriamente, lá na terra onde se produz o vinho do Porto!

Ok, entendi, explamou ele espantado.

E fui para casa que tinha feito muitos quilometros e estava mortinha por pôr gelo neste braço….

17. Passeando pela Grécia/Balcãs – a bela Dervish House…

4 de setembro de 2022

Viajar com dor era tão desafiador e incapacitante que era admirável, até para mim, como eu conseguia encontrar formas de lidar com a situação. Felizmente eu consigo dormir com dor, fazendo uso da minha capacidade de superação e adaptabilidade, senão teriam sido dias de sofrimento e noites de insónia!

Lembro-me de sonhar que me estavam a esmagar o braço de formas sempre aterrorizantes, a cada noite com instrumentos diferentes, como em filmes de terror sucessivos!

A vantagem é que, ao acordar tudo parecia muito melhor, menos assustador e menos doloroso do que nos sonhos, e eu via-me cheia de alegria porque apesar de tudo o sofrimento real era menor e menos assustador que o sonhado!

Uma boa forma de encarar cada novo dia!

De manhã não estava calor nenhum.

Felizmente a minha casinha era quentinha e confortável, mas a gente abre a porta do quarto e está no quintal e isso é estranho! É quase como dormir numa tenda, só que com mais conforto e sem ter trabalho a montar a casa ou de gatinhar para a cama!

O parque de campismo está situado num sitio deslumbrante, na borda do Canyon Tara e está preparado para receber gente que quer aproveitar o rio Tara e toda uma série de desportos radicais aquáticos.

Na realidade o Camp Kljajevića Luka disponibiliza uma série de atividades aquáticas de aventura, como fazer rafting ou navegar de caiaque pelos rápidos do rio Tara.

Qualquer atividade radical estava fora do meu alcance, mesmo que eu tenha pensado inicialmente na hipótese de experimentar alguma.

Mas a reformulação dos planos inicias da viagem fez com que eu apenas pudesse ficar ali por uma noite pois, além de não ter tanto tempo como desejaria, eu já sabia que não iria ter condições físicas para me aventurar…

Uma pena… pode ser que eu volte a passar por lá um dia.

No momento só me podia permitir passear em redor e apreciar os encantos do lugar.

Para mim a grande vantagem do parque, que eu podia aproveitar à vontade, era o simpático restaurante. No dia anterior fiquei lá até às tantas a comer e a beber e hoje iria lá tomar um belo pequeno almoço.

Depois de toda a chuva que eu apanhara, durante todo o dia de ontem o meu telemóvel não se deixava carregar, soltando um apito forte cada vez que o tentava ligar a uma tomada ou à power-banc. Nunca me tinha acontecido tal, até porque dizem que ele é à prova de água! Mas ele continuava a dizer que tinha humidade no sistema, pedia para o secassem com um secador (eu nem sabia que ele sabia escrever a pedir tal coisa!) e gritava!

Por isso passei o dia todo usando a bateria restante até ao limite. Cheguei ao parque muito preocupada pois, se não conseguisse carrega-lo, não teria bateria para continuar a fotografar hoje!

Por entre gestos e sinais pedi à menina do restaurante que me arranjasse algo para o secar, ela não falava inglês e não entendia por muito que me explicasse. Então liguei-o à corrente e, assim que ouviu o apito desesperado do telemóvel, ela pareceu entender, embora não conseguisse ler a mensagem que ele mostrava no visor. Voltou-me as costas e foi para a cozinha… Fiquei à espera a ver o que ela iria trazer-me, na cozinha seguramente não havia um secador de cabelo!

Então ela apareceu com um prato fundo cheio de arroz e enfiou o meu telemóvel lá dentro! Extraordinário, há coisas que são mesmo universais, heim?

Não demorou nem uma hora e ele deixou-se ligar à corrente em silêncio!

Então foi como se se tivesse criado uma conexão entre a miúda e eu e a partir dali foi um serão fantástico, com jantar caprichado e oferta de licores da região e tudo!

E pronto, já que não podia fazer atividades físicas exigentes, podia, pelo menos, encher-me de comida em paz!

E por falar em encher-me de comida, era mesmo isso que eu estava a precisar pois já parecera que perdera alguns quilos…

Oh, e que bem sabia o gelo no meu pulso!

Era como se ele estivesse sempre febril e o gelo o acalmasse. Pessoas olhavam como curiosidade para o meuconjunto azul, não havia forma de esconder o que estava a fazer, por isso pousei tudo em cima da mesa.

“Bom dia mundo! Não gosto que me vejam comer ao pequeno almoço, a minha mão está tão presa que nem consigo pegar direito no garfo! As pessoas ficam atónitas, como vou seguir conduzindo a minha moto com uma mão que não funciona direito? Sem problema, ao longo da manhã ela vai acordando para a vida, até ficar quase como nova” in Facebook

De repente ouviram-se berros lá dentro, um homem ralhava com alguém, depois varias vozes ralharam também! Não podia entender o que diziam, mas era claro que estavam a enxotar um miúdo, pensei eu.

Mas quem saiu não foi um miúdo humano, foi um bichinho! A principio pensei que era um cão, mas ao olhar melhor deu para perceber que não! O pobre pequeno, meio desamparado, veio encostar-se a mim. Mas quem correu com ele veio tira-lo de mim.

Só então puder ver melhor que carinha tinha.  Seria da família das cabras? Dos cervos? Veados? O que és tu fofinho?

O bichinho estava tão desamparado que apeteceu-me pegar-lhe ao colo!

Vendo-me olhar para ele com pena os homens explicaram que ele era um chato, que fuçava em todos os cantos, se metia debaixo das pernas das pessoas e, se não o impedissem, ia tentar meter-se dentro dos armários ou da despensa!

Tirei-lhe uma foto para pesquisar no Google Lens e descobri que era um Rupicapra bebé, também conhecido como camurça.

Dizem que são animais adoráveis, de pelagem macia, muito ágeis nas montanhas e com uma natureza brincalhona. Podem ser encontrados nas altas montanhas, desde os Pirinéus e Alpes até aos Balcãs.

Foi preciso ir tão longe para eu o ver, já que eles não se deixam observar facilmente de perto na vida selvagem. E ali estava um, que tinha de ser enxotado para não se meter no meio das pernas das pessoas, nem entrar pelas casas dentro!

Tão fofinho!

E pronto, estava na hora de me pôr a andar.

As paisagens em redor do parque de campismo mereciam algumas pausas, fotos e desenhos, o tempo necessário para ginasticar a minha mão até ela recuperar um pouco mais de mobilidade, para eu poder aproveitar depois as estradas cheias de curvas que viriam a seguir.

Junto à ponte, no início da rua do parque, há uma placa muito simpática!

E, do meio da ponte, pode-se ver o parque ao longe, numa clareira na borda do precipício do Canyon. Àquela distancia parece tão pequeno que o assinalei com uma setinha vermelha.  😀

Que sitio privilegiado para se montar um parque de campismo! Seguramente que um dia irei voltar a hospedar-me ali!

A ponte é como uma varanda sobre o paraíso!

A Ponte Đurđevića Tara é um marco importante na história do país e da ex-Jugoslávia e esse foi um dos motivos que me fez reservar dormida junto a ela.

Foi erguida entre 1937 e 1940, em tempos do Reino da Iugoslávia e supervisionada por Belgrado. Atravessa Canyon Tara e fica 172 metros acima do rio. Quando foi concluída tornou-se a maior ponte rodoviária em cimento da Europa.

Estava-se em plena II Guerra Mundial e, com a invasão liderada pelos alemães em 1941, grande parte de Montenegro, incluindo o Canyon Tara, foi ocupada pelos italianos. O terreno montanhoso da zona favoreceu a guerra de guerrilha e, durante uma ofensiva italiana, os jugoslavos destruíram de forma cirúrgica um dos arcos próximos à margem, com o auxílio do engenheiro da ponte, Lazar Jaukovic, inutilizando a única passagem sobre o Canyon para impedir o avanço italiano. No entanto os italianos acabaram por tomar conta de tudo e, quando capturaram o engenheiro, executaram-no em cima da ponte…

Provavelmente um dia alguém contará esta história com um “Reza a lenda…” pois a verdade é que a história está ligada à ponte, como as lendas estão ligadas a castelos, mosteiros e aldeias…

A ponte acabou por ser reconstruída em 1946.

Mas como eu não sou arquiteta nem engenheira, para além da ponte, foi a paisagem me trouxe aqui!

O rio Tara e as montanhas em redor são tão extraordinários, que todo o tempo que passei a contemplar e a espreitar, foi pouco. Quando inicialmente decidi pernoitar junto ao Canyon, eu tinha em mente ir lá abaixo de moto, por um caminho que leva a uma igreja, e de lá poderia apreciar a ponte ao longe e tal…

Mas na hora de descer não tive coragem… ainda desci um pouco, mas o caminho era longo, íngreme e em terra batida…

A minha mão, meio inutilizada, e o trauma da queda que quebrara meu pulso, não me permitiram arriscar… 

Quanto tempo iria demorar até o trauma passar?

Eu sou de choramingar pelo perdi e sim de aproveitar ao máximo o que tenho, por isso segui curtindo tudo o que podia, porque as estradas eram inspiradoras e cheias de curvas.

Montenegro é um país deslumbrante com estradas cénicas, montanhas imponentes e vales verdes, sempre com rios cristalinos a passar-lhes pelo meio. São paisagens que me enchem as medidas e facilmente prendem por completo a minha atenção. Desde a primeira vez que explorei este pequeno recanto dos Balcãs que me encantei e sempre que volto me encanto de novo!

As paisagens deslumbrantes, a rica cultura e a hospitalidade calorosa dos montenegrinos tornam cada visita uma experiência única e memorável. É como se, a cada regresso, eu reencontrasse um pouco de mim que deixei para trás quando cá passei de outras vezes!

Então passei por um grupo de motociclistas que me cumprimentaram vivamente, mas, mais à frente, quando parei para tomar um café e eles chegaram, não reagiram! Pousaram as motos e ficaram no seu canto. Muitas vezes me acontece isso e não sei porquê! Como se não se sentissem mais confortáveis em falar-me como quando me cumprimentam de moto para moto! Será que se sentem incomodados junto de mim? Será que intimido outros motards?

Aproveitei o café e continuei desfrutando a minha pausa, com aqueles homens a olhar para mim de longe!

Não faz mal, se ninguém me liga eu também não ligo a minguem e pronto!

Havia tanta paisagem fantástica para ver que isso nem era um problema, muito menos algo importante que me preocupasse. Até porque quando a beleza é realmente grande, o silêncio é a melhor companhia!

E lá estava o Slano jezero, lindo!

Nos arredores de Nikšić, há três lagos artificiais, incluindo o Lago Slano (Slano jezero), criado para suprir as necessidades da central hidroelétrica de Perućica. Nem parece uma estrutura artificial, com uma barragem em uma das extremidades! O lago é encantador, com uma beleza selvagem e natureza intocada ao redor. As águas são azuis cintilantes com varias ilhas e ilhotas pelo meio e margens verdes, que tornam o panorama quase irreal!

Há um miradouro, com um bar bem rustico, de onde se pode ver todo aquele panorama deslumbrante!

Claro que voltei a parar, mas não me atrevi a tomar mais um café, pois embora ele não pareça nada de especial, seguramente a cafeína me iria fazer querer correr mais do que a moto!

“Passei mais uma fronteira e foi uma experiência inédita! O polícia que conferiu meus documentos fez-me uma festa por ser uma Lady sozinha e, quando segui caminho, um motociclista croata colou-se a mim! Eu acelerei e ele também, eu reduzi e ele também. Até que parei para ver um mosteiro, ele parou também! Disse-me que era muito fixe viajar comigo, queria continuar. Nem penses homem, eu vim sozinha e quero continuar sozinha. Estava complicado descarta-lo! Então meti-me pelos quelhos da cidade e deixei-o para trás. Nunca me tinha acontecido algo assim! 😮” in Facebook

A seguir à fronteira estava a atravessar as montanhas de Klobuk, na Bósnia e Herzegovina.

Eu sabia que havia ali para baixo as ruinas de uma fortaleza medieval, mas não podia querer ver tudo.

Essa é uma experiência que levo comigo em cada viagem, nunca tentar ver tudo para não perder o prazer de viajar, por entre a ansiedade de correr de lado para lado.

Então limito-me a fazer o que é possível sem lamentar o que não é!

Sem sair da minha estrada, o que se via era bonito o suficiente para eu seguir feliz o meu caminho, sem sacrificar demais a minha mão marota!

E cheguei a Trebinje.

Eu já tinha passado perto, vinda de Dubrovnik a caminho de Sarajevo, mas não cheguei a explorar a cidade, apenas olhei de longe e pensei que um dia lá passaria.

E esse dia era hoje!

Trebinje é a cidade mais ao sul da Bósnia e Herzegovina, muito perto do mar Adriático e de Dubrovnik.

Na realidade, a Bósnia, apesar de ter uma extensa área próxima ao mar, possui apenas um pequeno trecho de costa. Assim, é sempre interessante seguir ao longo da costa croata, atravessar uma fronteira, percorrer apenas 21 quilômetros na Bósnia e depois cruzar outra fronteira para retornar à Croácia!

Trebinje é atravessada pelo rio Trebišnjica, que já se chamou Arion.

O rio é um fenómeno único, com muitos trajetos à superfície e subterrâneos. Corre para o Mar Adriático pelo subsolo e reaparece muitas vezes à superfície. Com uma extensão de quase 190 km, metade dele corre por baixo de terra o que o torna o rio mais longo do mundo a fazer esta habilidade.

E é em Trebinje que ele é mais bonito e corre à superfície dando umas voltas e curvas.

Resumindo, eu estava junto a uma verdadeira celebridade!

Fiz um picnic, ali ao lado, junto ao monumento a Luka Vukalovic, o herói nacional que defendeu a Herzegovina liderando os rebeldes que lutavam contra a opressão e infligiu pesadas derrotas aos otomanos em várias batalhas.

Ao andar por aqueles países tem-se mais noção de quanto lutaram todos contra o grande império Otomano!

Depois subi a colina Crkvina e as perspetivas sobre a cidade eram cada vez mais esplendidas!

No topo fica o complexo templo Hercegovačka Gračanica, dedicado à “Anunciação e Bem-Aventurada Virgem Maria”, o destino religioso mais visitado da Herzegovina Oriental.

Foi construído em 2000 para homenagear o desejo do famoso poeta Sérvio Jovan Dučić, que deixou declarado no seu testamento que queria ser enterrado nas colinas que rodeiam Trebinje.

Curioso como a história da zona se mistura com a da Sérvia e de Montenegro, afinal aquilo tudo era parte do Império Otomano, ou Turco, que durou uma infinidade de tempo, mais de 6 séculos, e só por isso a história daqueles povos mistura-se quando eram um povo só!

E eu que reparo sempre nos números não pude deixar de achar curiosa a semelhança dos anos de inicio e de fim do Império:  começou e, 1299 e terminou em 1922!!!

No complexo, além da igreja, existe a torre sineira, o palácio do bispo, um anfiteatro, uma loja de souvenirs e o restaurante com esplanada que se espalha pela enconsta abaixo em degarus.

E as vistas sobre a cidade são incríveis com a Ponte Otomanda de Arslanagić sobre o rio Trebišnjica, lá em baixo.

A ponte que foi movida, pedra por pedra nos anos 60, por vários quilómetros por causa da construção de uma barragem.

É fascinante ver de perto um pedaço de história de uma cidade e de uma região!

As coisas que a minha motita testemunhou!

Logo a seguir fica o Manastir Tvrdoš, dedicado à Dormição do Santíssimo Theotokos, um local de grande importância histórica e religiosa.

Foi fundado no século IV pelo imperador romano São Constantino e sua mãe Santa Helena. Tem por isso raízes muito antigas que remontam à época do Império Romano, com vestígios que podem ser vistos pelos fundamentos da antiga igreja romana, através do vidro que cobre parte do chão da igreja.

“Estava calor, eu tinha o blusão vestido e ainda tive de pôr uma saia para entrar na propriedade! Tive eu e todos os que quiseram visitar, até os homens que estavam de calções puseram a saia para tapar as pernas. Foi giro de ver! Mas o mosteiro valeu a pena, era lindo!” in facebook

Lá andávamos todos de saia azul, mulheres e homens!

As mulheres tinham de usar a saia mesmo estando de calças compridas como eu, os homens tinham de por a saia se estivessem de calções.

Eles não podem entrar mostrando as pernas, elas não podem sequer estar de calças. É sempre assim nos mosteiros ortodoxos, aconteceu-me o mesmo há anos para visitar s mosteiros de Meteora, na Grécia.

O mosteiro é composto, não apenas de espaços religiosos, mas também por diversos espaços de habitação de arquitetura muito curiosa.

O que aqueles mosteiros têm de fascinante é a beleza dos seus espaços, que me dão a sensação de que viver ali nunca seria monótono!

A igreja cinzenta da parte de fora, é um mundo de cor e historias no interior. Totalmente preenchida por afrescos, alguns ainda fragmentos de do sec. XVI

A riqueza do interior é hipnotizante, que se olha como para um livro de historias.  

As paredes adornadas com afrescos detalhados contam histórias de fé e tradição, enquanto as preciosas relíquias abrigadas falam muito sobre o passado histórico da igreja.

A relíquia mais importante do local é a mão de Santa Helena.

Para mim é sempre uma coisa estranha isto das relíquias! Parece-me tão inapropriado que alguém tenha mutilado o corpo da santa para lhe tirar um pedaço…

Varias capelinhas se sucedem numa subida ingreme, inspirando paz e reflexão necessária num local de paz e oração como um mosteiro. Um ambiente que contrasta com muitos dos mosteiros católicos mais austeros e monocromáticos!

E cada capelinha que se revela durante a subida é diferente e cheia de cor e história como se vivesse por si só!

Mesmo as mais pequenas têm o seu interior impressionantemente trabalhado como se fosse a mais importante do local!

Cada uma é um lugar onde o tempo parece suspenso, permitindo que os visitantes mergulhem em uma atmosfera de serenidade e contemplação.

O mosteiro foi destruído e reconstruído por diversas vezes ao longo da sua história e boa parte da construção atual é do séc. XVI.

E no topo da subida, feita de degraus e capelinhas, fica o cemitério todo torto, cheio de desníveis, mas muito bonito!

Sim, é sabido que eu aprecio visitar cemitérios!

Além dos monges terem um espaço variado e nada monótono para passarem os seus dias de oração e reclusão, também têm terrenos para tratar e cultivar. E cuidam da sua vinha e produzem mesmo o seu próprio vinho! E ao que me pareceu, um vinho muito apreciado!

Parece que lá, como cá, se produzem nos mosteiros coisas interessantes para beber e comer!

Ao sair do mosteiro, seguida de outros visitantes, cruzei com um par de noivos seguido do fotografo. Devem ter escolhido o mosteiro para fazer algumas fotos e foi bem escolhido, com os seus recantos bonitos e nós, os visitantes, todos de longas saias azuis, faríamos uma boa pandilha de damas de honra!

Não? Não querem? Uma pena, eu não me recusaria a participar das fotos se me levassem para a boda também!

Segui em passo de passeio por paisagens encantadoras.

Eu queria ir a Blagaj há muito tempo e ia aproveitar que ainda era cedo para tentar lá chegar. Digo “tentar” porque, se os caminhos fossem uma bosta e não me sentisse confortável a conduzir por eles, seguramente desistiria.

Eu sei! Eu, que nunca me recusei a ir a algum sitio, nem que tivesse de meter a minhas rodas por cascalho, gravilha ou lama, que subi penhascos e desci barrancos, com motas inapropriadas de mais de 300kg, agora seguia já pensando em desistir se as ruas fossem apenas manhosas…

Mas é assim, faz-se o que se pode com o que se tem, sem remorsos…

Para chegar a Blagaj passei por caminhos que mais pareciam propriedades privadas, atravessei campos e localidades que nem chegavam a ser aldeias. Então lá estava o rio Buna, que é a origem do rio Neretva que atravessa a cidade de Mostar, não muito longe dali.

Não havia indicações do que eu procurava, por isso fui seguindo por ruas pavimentadas de pedras meio irregulares, guiando-me pelo curso do rio.

Quando achava que seria bom parar a moto, um homem saiu do seu jardim para me dizer que não parasse ali, que seguisse mais para a frente pois ainda estava longe e haveria lugar para a minha moto mais perto.

A mim parecia-me que já estava perto o suficiente, podia ver o grande muro formado pelo rochedo, que parecia tão perto! Mas lá segui as instruções do senhor, agradecendo a atenção.

E claro, ele tinha razão!

A rua empedrada ia dar a um caminho pedonal em cimento, que mais parecia o quintal de alguém. Dali para a frente não se circulava mais. Dois homens me chamaram para eu estacionar a moto num terreno de terra batida ali ao lado, com cabine para pagamento do parque e tudo.

Oh senhores, eu não tenho dinheiro bósnio! E agora?

Já me estava a imaginar ter de ir pôr a moto no fim do mundo e depois caminhar até la de novo…

Mas os homens mandaram-me pôr a moto ali mesmo, arrumando as cadeiras de plástico e a mesa de campismo no canto junto à cabine.

Ok, tudo bem, vou levantar dinheiro assim que possa para lhes pagar.

O ambiente surpreendeu-me, de alguma forma eu esperava que fosse um sitio cheio de turistas, mas sem nada mais do que a montanha, o rio e o tekke histórico!

Felizmente os turistas eram poucos, o que me surpreendeu!

Isto de estar a viajar já fora da época alta, tem as suas vantagens. Se eu pudesse sempre o faria ou em junho ou em setembro!

Também me surpreendeu a quantidade de restaurantes na margem direita do rio, com passagens e pontes entre eles, e as águas do rio a passarem em seu redor!

Fantástico, aquilo tudo era tão bonito e inspirador que decidi que iria jantar ali, sem nem me importar se depois seguiria viagem já de noite.

Então, depois de passar os restaurantes e seguir por um caminho invisível na encosta da margem, por trás das casas, lá estava o tekke e a nascente do rio.

O tekke histórico é um mosteiro do séc. XVI, uma construção lindíssima que combina elementos da arquitetura otomana com um estilo mediterrâneo.

O sitio por si só já é bonito, com a agua turquesa muito transparente do rio e o penhasco acima, mas as construções ainda o tornam mais surreal!

Claro que me sentei ali a olhar em redor e a desenhar.

Às vezes os turistas não são muitos, mas há os suficientes para perturbar completamente o paraíso…

Uma fulana, vestindo roupas chamativas amarelo vivo, e usando um pau de selfie com o imenso telemóvel na ponta, apareceu. E ela, sozinha, conseguia arruinar o momento, falando muito alto para o telemóvel, que devia estar a gravar as parvoíces que dizia. Nem sequer estava a falar do local ou algo relacionado a ele, apenas falava de si e de como era fantástico viajar. Certamente tretas de lives para o Insta.

Continuei a desenhar em silêncio, para não perturbar a sua algazarra. Estão aquela estupida dirigiu-se mim, mandando-me sair dali para que ela pudesse ficar sozinha a filmar!

A sério?

Oh rapariga, aproveita o que tens e em silêncio para não perturbares a minha paz, dá-te por feliz por eu nem estar na frente de paisagem nenhuma e cuida de não me captares na bosta da tua live, ou poderás ter problemas legais comigo, ok?

A mulher ficou visivelmente em choque, até esperei que me viesse com um “sabe com quem está a falar?” como acontece nos filmes, mas não, ela simplesmente afastou-se para a ponta do espaço e ouvi-a a a falar com um tom muito mais baixo para a filmagem.

Acho que o meu aspeto intimida mesmo as pessoas!

Respeitinho é bom e eu gosto!

O mosteiro Dervixe tem um grande significado como marco espiritual e histórico. A sua construção ocorreu no contexto do misticismo islâmico, com os Dervixes desempenhando um papel crucial na orientação dos indivíduos para uma compreensão mais profunda da espiritualidade através das suas práticas, dado que o mosteiro era um local de adoração e meditação comunitária.

Na realidade a sua filosofia é de pura espiritualidade, vivendo em condições de grande pobreza e austeridade.

Já agora os dervixes mais famosos são os Dervixes Rodopiantes da Turquia, que rodam sobre si por horas, com saias brancas a fazer balão.

Para minha tristeza, não há multibancos por ali, nem existe a possibilidade de fazer pagamentos com cartão nos restaurantes… ainda pensei em negociar para pagar com euros, mas decidi que não valia a pena, o melhor era seguir para Čalići e jantar por lá.

Mas agora, como iria pagar aos homens o estacionamento? Catei a carteira à procura de moedas de euro, que são sempre aceites. Mas eles não quiseram o meu dinheiro, fizeram-me uma festa de despedida com acenos e lá segui o meu caminho.

Mais tarde percebi que o pagamento do estacionamento era de 2€, foi quanto eles deixaram de receber e ainda me fizeram uma festa!

Não estava longe do meu destino para aquele dia, mas ainda subi o desfiladeiro de Žitomislići.

Às vezes tenho pena que meio nenhum consiga captar o que os meus olhos veem! Eu sei que existem muitas possibilidades, mas nunca me entusiasmei porque ficam sempre aquém do que eu vejo. E nunca me apetece perder tempo montando gadgets por isso também não o faria com outros mais sofisticados que comprasse!

A subida do monte e a perspetiva lá de cima, sobre Žitomislići e o rio Neretva era deslumbrante! Merecia umas perspetivas de drone…

Cheguei a Čalići.

Estava instalada num centro pastoral na cidade das famosas aparições bósnias. Um rapaz muita simpático veio arrumar a esplanada para que eu pusesse a moto lá dentro, protegida do temporal que ele dizia estar a aproximar-se.

A residência estava cheia de peregrinos vindos de todos os pontos do planeta. Estaria a ser servido um jantar para todos, se eu quisesse poderia jantar também.

Excelente, vamos lá jantar em grupo.

O temporal chegou com chuvas e ventos fortes, mas podiam ouvir-se grupos passarem lá fora rezando alto. A fé não se deixa intimidar por temporais.

Amanhã vou explorar a cidade e visitar o Svetište Kraljice Mira o Santuário de Nossa Senhora Rainha da Paz.

16. Passeando pela Grécia/Balcãs – os Mosteiros de Studenica e de Žiča no meu caminho…

3 de setembro de 2022

Com chuva ou sem chuva, hoje seria o dia dos Mosteiros!

Igrejas, catedrais e mosteiros sempre me despertam o interesse. Não que eu seja particularmente religiosa, mas porque estes são sempre sítios cheios de historia que, frequentemente, permitiram que tesouros culturais chegassem até aos nossos dias, enquanto os que estiveram nas mãos de pessoas comuns foram desaparecendo ao longo dos séculos.

Quando dizem que a Igreja devia vender e distribuir todas as suas riquezas pelos pobres, não se pensa que, se realmente se fizesse isso pelo mundo fora, uma enorme parte do valor histórico da humanidade se perderia para sempre e os pobres continuariam a ser os mesmos!

Regimes políticos que o fizeram nos seus países, fizeram com que muito do seu património histórico religioso se perdesse, mudando dos locais religiosos onde esteve durante séculos e podia ser visto por todos, para as mãos de meia dúzia de pessoas poderosas, desaparecendo para o publico e, muitas vezes, para a humanidade. E os seus pobres não enriqueceram nada com isso!

O meu pequeno almoço foi fantástico, na esplanada de frente para a minha motita. Ah, e o pão ainda morno, aparentemente feito no local, era delicioso! Uma das coisas que gosto de conhecer em cada país que visito é o seu pão.

Vários camionistas vieram dos seus camiões tomar o pequeno almoço junto de mim. Vinham de vários países de leste, Roménia, Ucrânia, Bulgária, e aquele era um ponto estratégico onde paravam regularmente. Dormiam nos camiões e faziam as refeições da noite e da manhã ali.

Ficaram curiosos por eu andar sozinha por aquelas terras. Expliquei que já tinha andado nas terras de onde eles vinham noutras viagens. Mas o espanto foi quando repararam na minha mão esquerda, que eu tentava esconder debaixo da mesa, com a bolsa de gel enrolada.

Vários vieram ver de perto o que se passava. E, de repente, criou-se ali uma onde de solidariedade, em que me queriam levar, a mim e à minha moto, num camião para eu não sofrer a conduzir!

Demorei a entender direito o que se passava. Mas depois entendi, eles pensavam que eu tinha tido um acidente por ali, uns dias antes, e por isso queriam ajudar-me a chegar a casa, penando que eu não tinha condições de seguir conduzindo.

Ah, não se preocupem comigo! Eu tive o acidente há 2 meses, fui operada e assim que a mão mexeu parti de viagem! Por isso já ando na estrada há 15 dias, sem problema!

E preparei-me para partir sob o seu olhar incrédulo!

Ha coisas que me prendem a atenção nos meus caminhos…

Cemitérios sempre me chamam a atenção, porque revelam muito sobre como cada povo honra os seus entes queridos, mesmo depois da morte. O seu significado transcende o tempo e as fronteiras culturais, tornando-os parte integrante das sociedades em todo o mundo.

Há que veja os cemitérios como locais sagrados que exigem o máximo respeito, há quem tenha medo, se afaste e nem queira dar uma olhada, e há quem tenha as atitudes mais diversas com base em crenças religiosas ou costumes históricos. Eu gosto de os observar em cada pais onde passo, frequentemente paro e fico a olhar, por vezes fotografo a té desenho, como quem aprecia um jardim…

A seguir eu iria atravessar Dolina Kraljeva – o Vale dos Reis.

Sim, embora o nome nos leve imediatamente para o Egito, também há um Vale dos Reis na Sérvia!

Na realidade o Vale dos Reis ocupa um lugar significativo na história da Sérvia como o berço do país. Este vale desempenhou um papel crucial na formação da identidade e do desenvolvimento da Sérvia ao longo dos séculos. O seu significado histórico pode ser visto através de monumentos, eventos e figuras importantes associadas à região, que tiveram um grande impacto no país e deixaram um legado que chegou até hoje.

E cheguei ao  Манастир Студеница – Mosteiro de Studenica

Não havia parque de estacionamento “tradicional”, quero dizer pavimentado,
perto da porta e um monge me disse para estacionar no relvado! Confesso
que a minha motita ficou tão bem em contraste com o verde em redor!

Igrejas, mosteiros e templos definitivamente ajudam a compreender melhor a história da Sérvia porque preservam a história do patrimônio do país. Os templos mais bonitos e antigos foram construídos por governantes poderosos, alguns dos quais passaram seus últimos anos de vida como monges.

Na Sérvia, há 212 mosteiros, dos quais 54 são declarados monumentos de interesse nacional e este está na Lista do Património Cultural da UNESCO. 

Isso quer dizer que ainda tenho de voltar à Sérvia uma série de vezes para poder ver mais alguns!

O Mosteiro de Studenica, do final do século XII, é um dos maiores e mais ricos mosteiros ortodoxos sérvios e foi fundado por Stefan Nemanja o primeiro rei da Sérvia, nomeado pelo Papa e reconhecido internacionalmente.

Foi construído em um estilo arquitetónico específico, conhecido como “escola Raška”, que combina a influência do românico ocidental com a tradição bizantina oriental.

Não pude deixar de sorrir, ainda ontem me diziam que eu parecia uma cavaleira Raška!  😀

Lá estava o monje!

Os monges geralmente vivem em mosteiros, onde se dedicam à vida monástica de contemplação e oração. Diferentemente de pastores, professores, enfermeiros ou assistentes sociais, sua vocação é considerada única e distinta, não participando normalmente do ministério ativo da Igreja.

Dentro de um mosteiro, a vocação monástica é vista como uma vocação leiga, com apenas um ou dois padres responsáveis pela vida sacramental da comunidade, enquanto os demais membros se dedicam à busca espiritual e à vida comunitária.

Além das tradicionais funções religiosas, o mosteiro era um centro cultural e médico do Estado sérvio medieval, e o mausoléu da dinastia.

O recinto do mosteiro está cercado por muros fortificados e contem duas igrejas mais importantes, a Igreja de Santa Maria de Deus e a Igreja do Rei, e uma mais pequenita, a Igreja de São Nicolau.

Reza a lenda que o rei Stefan Nemanja, tendo perdido uma batalha com o exército bizantino, foi levado para Constantinopla (Istambul) como testemunha viva da vitória. Lá ele foi preso no mosteiro da Mãe de Deus. Rezando pela sua libertação, prometeu que, se ela o libertasse do cativeiro, ele construiria o mais belo mosteiro para ela. 

Quando foi libertado, ele cumpriu a sua promessa e o templo principal do complexo do Mosteiro de Studenica é dedicado à Mãe de Deus e foi construído como uma como igreja funerária para ele.

A Igreja da Virgem Maria é uma construção onde as influências do Oriente e do Ocidente se combinam de forma harmoniosa. 

As soluções espaciais baseavam-se nas soluções das fundações bizantinas, enquanto o desenho exterior e tratamento das fachadas, contam com elementos da arquitetura românica ocidental. 

O acabamento românico em mármore branco vê-se no exterior, a partir de meio da construção até ao altar. Uma conjugação curiosa de materiais que, a mim, me agrada pela conjugação das cores dos diversos materiais. Muito original!

O interior é, basicamente, todo em mármore.

A igreja estava em restauro o que não me permitiu apreciar direito o espaço.

Uma pena, pois eu sabia que lá dentro se encontra uma coleção inestimável ​​de pinturas bizantinas dos séculos XIII e XIV….

Mas ainda consegui ver o afresco mais bonito e famoso do lugar: “A Crucificação de Cristo”, uma das maiores realizações da arte medieval.

A Igreja do Rei parece uma joia, ou um grande relicário, mas que é pequena entre os edifícios mais altos em seu redor, o que realça ainda mais a sua beleza branca.

Foi muito engraçada a explicação do monge, pois chamava senhor ao rei e rei ao Senhor, o que era uma confusão para eu entender o que ele queria dizer!

Mas depois entendi!

A pequena igreja, dedicada a São Pedro, Joaquim e Ana, foi fundada por outro rei descendente de Nemanja, e acabou por ficar conhecida mais pelo seu fundador do que pelos seus patronos, sendo por isso chamada de Igreja do Rei.

Vinte minutos para entender isto!

A vida monástica sempre me intrigou! Tentei saber um pouco mais… e foi muito interessante!

Ali é marcada por uma rotina de oração, estudo, trabalho manual e reflexão, com ênfase na busca por Deus e na contemplação. Os monges buscam viver de forma simples, em comunidade, renunciando a bens materiais e ao mundo exterior, para se dedicarem inteiramente à sua fé e ao serviço a Deus.

Embora a sua atuação direta na sociedade seja limitada, a sua vida de oração é vista como um alicerce espiritual que sustenta a Igreja e o mundo, através de suas intercessões e testemunho de fé.

Não me pareceu muito diferente da ideia que tenho dos monges católicos.

O trabalho minucioso de restauro seguia também no exterior.

Às vezes as pessoas não têm muita noção do nível de minucia deste trabalho.

Lembro-me de um dia alguém me dizer que, se mandasse, não deixaria que restaurassem determinado local para não o estragarem! A pessoa não entendia que restaurar não é a mesma coisa que refazer, ou reconstruir! Claro que, frequentemente, há quem reconstrua um carro ou uma moto e chame a isso restaurar, mas restaurar é recuperar o que se puder da obra e prepara-la para resistir ao tempo sem continuar a degradar-se.

Isso quer dizer que, se faltarem partes, se pormenores tiverem desaparecido destruídos pelo tempo, eles não aparecerão com o restauro, não serão repintados nem acrescentados. Simples assim!

Ao sair do recinto do mosteiro, podia ver a pequena Igreja de São Nicolau, para mim uma capelinha!

O rei Nemanja decidiu que ele e seus descendentes teriam os seus túmulos em Studenica, por isso a igreja de São Nicolau certamente foi construída por um dos membros da família.  

Lá estava a minha motita, tão bem enquadrada no verde do grande jardim, no exterior das muralhas do mosteiro!

Era uma sensação curiosa perceber tão obviamente a aproximação do outono! Afinal eu nunca tinha viajado tão tarde e, em “tempos normais”, por aqueles dias eu estaria já em Portugal, não na Sérvia!

A seguir iria para o Манастир Жича – Mosteiro de Žiča

O que eu gosto do alfabeto e escrita sérvios! Imagino como seria escrever assim, como quem desenha bonequinhos!

O Mosteiro é do inicio do séc. XIII e foi local de coroação de 7 reis. O santuário permanece um símbolo com 800 anos de inspiração e fé para o povo e um local importante de peregrinação.

Foi fundado por dois irmãos, Stefan Nemanja, o primeiro Rei (o mesmo que , uns anos antes, fundou o Mosteiro de Studenica), e São Sava, o primeiro Chefe da Igreja Sérvia.

Os irmãos queriam criar um lugar sagrado para servir como um centro espiritual do país, naquela época, e um lugar sagrado para as coroações futuras.

Definitivamente aquela família era composta por gente muito importante, família de reis e santos!

Reza a lenda que uma porta secreta era aberta para cada rei, para que eles pudessem entrar no mosteiro quando quisessem e, supostamente, eram fechadas e seladas quando o governo do rei acabava.

Estas portas secretas seriam também utilizadas pelos reis como rotas de fuga em tempos de perigo. Dizia-se que conduziam a túneis subterrâneos que ligavam o mosteiro a locais distantes, acrescentando uma aura de mistério e aventura ao local. Embora não existam provas concretas da existência destas passagens secretas, a sua presença na tradição local adicionou uma camada de fascínio à história do mosteiro.

Os vestígios da lenda prevalecem no nome popular do mosteiro “O mosteiro dos sete portões” pelos 7 reis ali coroados.

Sendo uma importante relíquia da tradição sérvia e um local de inspiração e fé para pessoas em apuros, ou pessoas em busca de paz, o Mosteiro de Žiča foi muitas vezes alvo de banditismo e atrocidades dos inimigos.

No século XIV, com a opressão dos otomanos, a atividade religiosa do mosteiro de Zica foi reduzida e mantida em segredo e, com o passar do tempo, ele quase deixou de cumprir sua função como centro religioso.

As pessoas podem ter mudado o seu comportamento e mantido silêncio sobre suas crenças e esperanças sob o domínio otomano, mas quando chegou a hora de proclamar o Reino da Sérvia novamente e desfrutar da independência total, cinco séculos depois, um novo rei escolheu o Mosteiro de Zica como local de coroação.

As lutas do mosteiro continuaram, quando os alemães ocuparam a Sérvia em 1941, e ele foi incendiado, só sendo completamente restaurado quase uma década depois.

Os diversos espaços do mosteiro são muito bonitos, com capelinhas e igrejinhas espalhadas pela imensa área relvada. E aquilo que eu pensei ser uma fonte, na realidade era uma pia de agua benta lindíssima!

A Igreja da Santa Dormição, dedicada à Assunção de Maria, é o templo principal do mosteiro e desempenha um papel vital nas práticas de culto ortodoxo sérvio desde a fundação do local. 

Eu conhecia igreja revestida e pintada, por isso estranhei vê-la com a pedra original exposta, sem a característica cor vermelha que a tornava tão peculiar e que carateriza o próprio mosteiro!

A mudança na cor certamente despertou a minha curiosidade, no entanto não consegui encontrar quem me esclarecesse sobre a mudança. A cor vermelha, originalmente utilizada na igreja, segundo sei, pode ter desempenhado um significado simbólico ou cultural importante para a comunidade, no entanto, a transição para a pedra pode ter a ver com levar o edifício ao seu aspeto original pois, embora eu não saiba muito sobre arte decorativa local, parece-me que o revestimento vermelho era muito recente, nada que se parecesse com as decorações medievais!

Digo eu…

Os jardins meticulosamente cuidados são realmente um convite à meditação. A serenidade é sentida em cada canto do mosteiro, percebendo-se que, mesmo ao ar livre os visitantes se mantinham em silêncio!

E as histórias de sofrimento e destruição continuaram em 1987, embora aquela não seja tradicionalmente uma zona de fortes atividades sísmicas, o mosteiro foi quase destruído por um terramoto que assolou o país.

Felizmente o pior foi evitado e o interior do mosteiro é maioritariamente original, sendo alguns afrescos obra de alguns dos melhores pintores medievais, que vieram de Constantinopla.

Infelizmente as lutas do Mosteiro continuam hoje!

Em 2022 turistas vandalizaram alguns afrescos, escrevendo os seus nomes nas paredes…

Eu nunca entendi qual o interesse de escrever os nomes nos sítios que se visita! Apenas quem o faz sabes de quem são os nomes, ninguém mais conhece as personagens e, além de ser um ato desrespeitoso, se todas as pessoas o fizessem, rapidamente desapareceria toda a história dos povos, por entre riscos de estupidez!

Como dizia o Ministro da Cultura e Informação na época:

“Devemos desenvolver a consciência de que se nós, como indivíduos, não cuidarmos do nosso património cultural, não há instituição, estado ou punição que possa compensar isso”

O pior é que, provavelmente nem foi gente de lá, mas turistas parvalhões de outros países, ansiosos por  publicar bosta no Instagram…

Eu sabia do sucedido mesmo antes de partir de viagem, ao estudar o que procurava ver, mas estes imbecis, certamente, nem se preocupam com a história dos locais, apenas com seus próprios egos inflamados…

Sobe-se a colinha e lá está o cemitério do mosteiro, com uma distribuição curiosa de cruzes, por recantos e socalcos, não sei se organizado de forma hierárquica ou simplesmente por questões de espaço.

Pela localização e pelo ambiente, o cemitério revela-se como um lugar de paz e contemplação. As cruzes, erguidas em diferentes alturas, contam histórias silenciosas de vidas passadas, em placas com fotos e textos que só consegui entender em parte. Pena eu não conseguir lê-las melhor!

Um local onde o tempo parece desacelerar…

A seguir fica a Igreja vermelha da Assunção da Virgem Maria, lá no topo da colina, a seguir ao cemitério.

O mosteiro é continuamente pintado de vermelho desde o século XIII, e muitos historiadores de arte e críticos especulam que é para simbolizar as lutas e as dificuldades do passado

E para quebrar o ambiente profundo e contemplativo que me envolvia, lá em baixo estava aquela que devia ser a casa onde se comia!

Ui, a fome que eu tinha! Agora so tinha de descer aquilo tudo, percorrer as alamendas da entyrada e ir até ali encher- me de comida!

Eu demorara muito tempo nas minhas visitas por isso decidi seguir para Montenegro calmamente.

Tinha mais de 200km para fazer, o meu pulso estava a pedir gelo e eu não me queria arriscar a ter de conduzir apressadamente, sem capacidade de reação rápida, por causa da dor.

Apreciar o caminho é uma das coisas mais fantásticas de uma viagem, não apenas visitar lugares e entrar em sítios!

O rio Lim, o último que eu veria antes de entrar no Montenegro, era algo digno de atenção! Estava a meio gás.

É sempre impressionante quando um rio mostra as suas entranhas assim. Felizmente o outono estava a chegar e em breve começariam as chuvas para o encherem de novo. Esperava eu!

De repente cheguei à fronteira, sem nem dar por ela, já que não tinha fila.

Não havia muita gente na fronteira, cheguei lá quase sozinha, a bem dizer. Isso não me livrou da já celebre pergunta: “Your friends?” nem os livrou a eles da minha tradicional resposta: “No friends, I’m alone!”

Oh, se eu recebesse uma nota por cada vez que me fazem aquele pergunta e a cada vez que eu dou aquela resposta, já teria amealhado um boa quantia!

E cheguei ao alojamento.

Eu sabia que era um parque de campismo e ia preocupada, como nunca me tinha preocupado antes em nenhuma viagem!

E se o acesso ao parque fosse em piso irregular, terra solta ou terra batida em subida ou descida ingreme? Eu sabia que ele era junto ao rio Tapa, num ponto onde o rio ficava centenas de metros abaixo, formando gargantas e canions excelentes para desportos radicais aquáticos.

Quando eu fizera a reserva ainda não tinha tido o acidente e tinha-me parecido um sitio fantástico para dormir, mas agora estava com medo de não conseguir chegar até ele!

Felizmente o caminho desde a estrada até ao parque era uma rua perfeitamente civilizada e alcatroada e havia lá um restaurante simpático e tudo!

Oh alivio!

O meu quarto era uma casinha inteira no meio de um imenso relvado.

Disseram-me para levar a moto até lá…

No momento tremi um pouco de medo, mas depois pensei que, se a tinha estacionado em cima da relva, junto ao mosteiro de Studenica, também conseguiria andar toda aquela distancia até à minha casotinha. Era uma questão de confiar em mim e na minha mão meio inerte…

A minha casotinha era muito fofa.

Caso para dizer que a minha cama ocupava uma casa toda! Não me faltava nada, comi bem no restaurante, bebi um bom vinho, deixei a bolsa de gel no congelador e fui dormir.

Amanhã vou seguir para a Bósnia…